A cidade enlouquece em sonhos tortos
Na
verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente,
sem prazer
(Essa noite não, Lobão, 1989)
Vivemos atualmente em uma sociedade
que nos cobra “beleza, amor e poder” basicamente 24 horas por dia o ano
inteiro, mas, infelizmente, a vida é feita de imprevistos e a letra da música
do final do século passado continua bastante atual. As pessoas enlouquecem
calmamente com sonhos tortos e exigências de um mundo capitalista que faz cada
vez menos sentido.
O que nos torna humanos é justamente
a capacidade de sentir e elaborar esta vivência, mas cada vez mais o sentir é
posto embaixo do tapete e os seres humanos tornam-se máquinas que vivem o dia a
dia buscando algo freneticamente. Em busca do quê, exatamente?
A maior expressão da angústia
Pode ser
a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo
menos essa noite não
(Essa noite não, Lobão, 1989)
O vazio que vai aparecendo nos
momentos em que as máquinas param e é possível respirar e olhar ao redor
torna-se uma angústia indescritível, que não se consegue entender ou nomear; a
vida não faz sentido e perde o seu brilho. As compras desenfreadas, as festas e
as bebedeiras, o sexo e o consumismo tentam desesperadamente preencher essa
lacuna que fica no sentido da existência humana. Afinal de contas, em meio a
tantas dores e dificuldades para conseguir aquilo que a mídia diz que é preciso
ter para ser importante e amado, qual o sentido disto tudo? Qual o sentido de
toda esta luta?
As cortinas transparentes não revelam
O
que é solitude, o que é solidão
Um desejo violento bate sem querer
Pânico,
vertigem, obsessão
(Essa noite não, Lobão, 1989)
Os desejos e os quereres
confundem-se com o que se espera da pessoa. E, algumas vezes, acaba-se por
perder os sonhos que outrora foram essenciais para se constituir como ser.
Dessa forma, quando é que realmente nos defrontamos com o estar sozinho consigo
mesmo em uma jornada para se conhecer e quando simplesmente estar só é
aterrorizador porque iremos nos deparar com a nossa verdadeira essência e o que
há de bom e ruim nela?
Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo
Seus
fantasmas, seu enredo, sem destino
Toda noite uma imagem diferente
Consciente,
inconsciente, desatino
(Essa noite não, Lobão, 1989)
A maior expressão da angústia, a
depressão e o desejo de não mais sofrer, podem ser vivenciados de formas
desastrosas, danosas à saúde física e psíquica. Ou podem ser compreendidos como
uma oportunidade para se reinventar, se redescobrir. Para isso é preciso
coragem para falar e mexer naquilo que foi jogado embaixo do tapete... É uma
oportunidade, de dizer “Tristeza, essa noite não! Essa noite quero aprender com
você”. Ela pode ser a bússola que indica o que está de errado em sua trajetória
e a guia para as próximas reflexões.
E assim, o psicólogo pode ser aquele que irá
lhe acompanhar nesta jornada frente ao redescobrimento de si mesmo, sendo
testemunha do desabrochar e interlocutor das reflexões que o viver e as dores,
alegrias e amores trazem a todo e qualquer ser humano.

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