quarta-feira, 20 de julho de 2016

Comunica... Ação...

Comunica... Ação...
Rosario Câmara

Quem de nós nunca teve problemas devido a falta de comunicação, seja por medo de se expressar ou simplesmente pensar que não vale apenas falar? Quem nunca falou uma coisa e aquele que recebeu entendeu alguma coisa bem diferente? Acredito que metade dos problemas humanos são os problemas de comunicação. Nem sempre falamos para os outros, normalmente falamos para nós mesmos e temos a certeza que seremos entendidos e, pior ainda, muitas vezes já sabemos o que os outros vão pensar e dizer... Supomos... Adivinhamos... E se todo mundo age com a "certeza" do que o outro pensou... Já viu, né?

A palavra comunicação é proveniente do Latim communicatio e tem o significado de tornar comum ou repartir. Vamos dividir a palavra: communis (público) + actio (ato) = ato de tornar público e, adivinhem, a palavra é parente de "comunhão" que significa a realização de algo em conjunto. Podemos entender, dessa forma, que ao comunicarmos algo à alguém estamos compartilhando uma ideia para que algo em conjunto possa ser realizado. Tendo isso em mente fica mais fácil compreender porque se não conseguimos passar uma mensagem clara, acabamos por ter muitas dores de cabeça.

De mal entendidos à não acontecidos, saber falar o que sente é uma habilidade social que precisa ser desenvolvida desde a infância. As crianças pequenas estão aprendendo o repertório do comportamento social com o ambiente que a cerca, no entanto, existem as emoções primárias (raiva, alegria, medo, tristeza, nojo, surpresa e amor) que invadem a criança e, na maioria das vezes, faz com que elas passem diretamente para a ação. Neste momento, cabe ao adulto e ao meio a ajuda para identificar e expressar essa emoção de forma saudável. Entender o que está acontecendo dentro de si e saber dizer aos outros isso pode ser comparado ao fato de sentir fome e pedir comida. No entanto, tendemos a embaralhar tanto emoções e sentimentos que isto não se torna tão simples. De imediato podemos pensar que dizer "estou com fome e preciso comer" não é um ato tão proibido como fazemos com a raiva. Se dizemos que estamos com raiva de alguém, o mundo caí e somos alertados e orientados a não dizer isso, pois isso faz mal ao espírito, ao corpo e tantas outras coisas que inventamos, mas o grande problema é que "não dizer", não se refere também ao "não sentir". E, o que aprendemos com isso? Não podemos expressar tudo que sentimos.

Mas, será que se aprendermos a conviver com as emoções e os sentimentos, sejam negativos ou positivos, e a expressa-los sem acusar os outros, porém simplesmente falando de algo que estamos vivenciando, como se contássemos uma experiência, e, aprendêssemos a ouvir esses relatos sem tomar como uma ofensa, será que não ficaria muito mais claro e mais fácil todas as nossas relações? Afinal, estaríamos finalmente falando o que realmente estamos pensando sem o medo da retaliação e não ficaríamos inventando quimeras que nos dizem os que os outros estão a pensar de nós.

Lembre-se não é a sinceridade escancarada da qual estamos tratando, mas sim de saber identificar e expressar o que é nosso e o que é do outro. Saber diferenciar os atos das pessoas. Atos cometidos não podem ser modificados, mas as pessoas, estás podem mudar, desde que se possa compreendê-las, aceitá-las e, incentivá-las. Portanto, como você anda falando com você mesmo e com o mundo que o cerca? Como você anda "compartilhando" as suas "ações"?

P.s.:
·         *As emoções primárias estão muito bem retratadas na animação "Divertida Mente" (2015) dos estúdios Disney-Pixar. Se ainda não assistiu, assista. Um ótimo filme para assistir com a família.

·         *Quimera é um monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente.

- -Publicado inicialmente em: http://www.agendasaude.net/2016/03/comunica-acao.html.



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