segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

FILHOS ESPECIAIS, MÃES ESPECIAIS: REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EFICIENTE.

Este artigo foi escrito em 2008, enquanto cursava a faculdade de psicologia, junto com Jessyanne Freitas, que realizava comigo um trabalho na APAE de Garanhuns com as mães das crianças especiais, e com o nosso orientador do trabalho o Professor Antônio Pereira Filho. Foi publicado originalmente no livro "Educação e Ciências: Diálogos Interdisciplinares" no ano de 2009. Espero que gostem!


FILHOS ESPECIAIS, MÃES ESPECIAIS: REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EFICIENTE.

 Mulheres Guerreiras e Vencedoras... Mães... Mães Especiais... Com uma vida bastante especial. Esse é o relato de uma experiência que beira os dois anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Garanhuns – APAE Garanhuns. Um trabalho com mães especiais, na sala de espera da referida instituição, em que as mães, algumas com seus filhos e outras não, esperam o atendimento da Equipe de Estimulação Precoce ou esperam o horário do fim da aula do setor de Escolaridade. Dois grupos, um na segunda e um na terça, mulheres de várias idades, várias cidades, vários níveis sociais, ligadas por um fator em comum: uma criança especial.
         
 Alguém pode se perguntar: por que trabalhar com as mães e não com as crianças? E aí lançamos outra pergunta: como uma mãe pode cuidar de uma criança, seja ela especial ou não, se não estiver saudável física e emocionalmente? Como uma mãe estressada pode dar carinho e amor?

 Para entender tudo isso, precisamos começar pelo início de tudo, ou seja: um belo dia uma mulher descobre que está grávida, e então ela começa a dar vazão a seus sonhos e desejos. Seu sonho de além de ser mulher ser mãe começa a se realizar, pois como mãe, ela se auto-afirma como mulher. Ela, então, idealiza uma criança linda, correndo, brincando, sorrindo, falando, enfim, uma criança saudável e perfeita. Será a primeira de muitas crianças; e a mãe, o pai, e os filhos que virão serão uma família muito feliz. É um sonho que tem tudo para ser perfeito. Porém ao dar à luz uma surpresa: o médico lhe comunica que a criança que nascera é uma criança especial e que ela “nunca” será como as outras crianças.

A dor, o medo e a ignorância

Quando iniciamos o trabalho na APAE, não sabíamos muito sobre a vida dessas mães, sabíamos apenas que elas precisavam de alguns momentos para falar sobre si, para desabafar e, até mesmo passar o tempo enquanto esperam por seus filhos; tínhamos em mente apenas que era necessário apoiar, ajudar a diminuir o nível de ansiedade, ajudar a estreitar o laço com seus filhos através de técnicas como massagem e falar sobre a importância de estarem bem e cercada de uma rede social de apoio para cuidar deles. Mas o que encontramos foi dor e falta de informação.

Portanto, alguns meses depois do início do trabalho, nós sentimos necessidade de fazer um questionário para colher dados básicos dessas mães e poder ter uma ideia melhor do que poderíamos trabalhar com elas. O que encontramos? Bem, algumas foram apenas encaminhadas pelo médico e não sabem o nome da doença ou mesmo o que estão fazendo ali, apenas sabem que seus filhos precisam e por isso elas vão. Outras, foram os vizinhos, amigos e parentes que notaram que havia algo de errado e aconselharam a levar a criança ao médico, que as encaminhou a APAE. Algumas negam e apenas dizem que estão ali para a fisioterapia, para ajudar no desenvolvimento do filho, mas que ele não é especial. E ás vezes, nem o nome da doença elas conhecem.

Medo, falta de informação e a resistência, são esses três fatores que encontramos em todas as reuniões, alguns dias mais, alguns dias menos.  A instituição se preocupa com elas, mas o atendimento primordial é voltado para os seus filhos. Eles precisam de atendimento urgente, não elas. Nesse caso, trabalhar com elas durante uma hora apenas, mostra-se um tempo curto, mas, no entanto extremamente necessário.

Fazemos o que podemos, deixem-nos contar um pouco sobre uma tarde típica de reunião: chegamos entre 13h30min e 14h; ás 14hs, iniciamos o trabalho; algumas mães estão chegando, outras já estão saindo para resolver problemas, enquanto seus filhos estão na sala de aula, e algumas mães estão saindo para levar seus filhos ao profissional da equipe que irá lhe atender naquele momento, depois de uns 15min elas voltam com as crianças e daqui a uns 20 ou 30min saem novamente para atendimento; algumas vem de outra cidade, estão com fome, ou com dores de cabeça, ou cansadas e até mesmo enjoadas por conta do carro. Dessa forma numa pequena sala retangular, onde elas entram e saem a todo instante, profissionais entram para buscar crianças e saem novamente com as crianças, tentamos criar um clima grupal, onde elas possam trocar informações e verem que não estão sozinhas. Em outros dias, o horário delas não se choca com o nosso e ás vezes passamos meses sem ver uma mãe, ou elas simplesmente são desligadas da instituição por faltarem demais ou porque seus filhos recebem alta.

Acreditamos que é necessário realmente criar um tempo para elas. Um espaço delas, em que elas se sentissem a vontade para ir e falar; em que elas estivessem vinculadas ao grupo e não só a instituição. Deixem-nos explicar o porquê: em outubro de 2008 fizemos uma atividade em que as mães construíram chocalhos, com material reciclável, para os seus filhos, a reunião durou mais que uma hora, quase duas, todas as mães participaram, algumas fizeram até mais que uma e sorridentes levaram seus filhos e o chocalho para casa. Uma semana depois, o filho de uma dessas mães veio a falecer; foi atendido no pronto-socorro, mas não sobreviveu. A morte chegou assim, sem dar um aviso prévio, como acontece com quase todo mundo, mas que é algo muito mais próximo de algumas dessas mães especiais, dependendo da doença de seus filhos. E o que aconteceu? Soubemos do ocorrido por conhecer pessoas fora da instituição que trabalham no hospital, dentro dela, foi preciso perguntar e alguns funcionários nem sabiam, iriam verificar. A referida mãe apareceu na instituição quase um mês depois, ou seja, dezembro. Não participou do encontro, foi apenas se despedir das mães. E alguns dias depois na festa de encerramento do ano, pois, havia sido convidada para dar um depoimento. E nos perguntamos? Como estará ela? Uma das mães que mais tinha esperança de seu filho andar e falar, uma criança com seus dois anos... Uma mãe que agora teria que se readaptar a ser apenas uma mãe comum e não mais uma mãe especial.

Trajetórias e inspirações...
               
De qualquer forma, para escutar e trabalhar com essas mães, precisamos nos ater ao que fala Winnicott em seu livro “Conversando com os pais” (1999):

Do que as pessoas realmente gostam é que lhes seja proporcionado à compreensão dos problemas que estão enfrentando, e agrada-lhes saber adquirirem consciência das coisas que fazem intuitivamente. Sentem-se inseguras quando entregues aos seus próprios palpites, ao gênero de coisas que lhes acodem no momento crítico, quando não dispõem de tempo para refletir e considerar maduramente que atitude tomar (WINNICOTT, 1999, p. 3).

É preciso estar constantemente lembrando que errar é humano, assim como se cansar e até mesmo não ter bons sentimentos para com os seus filhos é normal (WINNICOTT, 1999).

Winnicott já fazia a mesma reflexão com a qual começamos: porque ajudar a mãe e não a criança?

Qual é a utilidade de pôr em palavras o que é incômodo em ser mãe? Eu penso que as mães são ajudadas se forem capazes de expressar suas angústias no momento em que as sentem. O ressentimento reprimido deteriora o amor que está subjacente em tudo (WINNICOTT, 1999, p. 88).

A experiência mostra que é difícil justamente falar sobre as dificuldades encontradas nesse relacionamento, mãe especial-criança especial, assim como é difícil para elas verem a si mesmas. Seus filhos tornam-se “anjos”, dão um pouco de trabalho, às vezes deixam nas doidas, mas normalmente o filho “normal” dá mais trabalho que o “especial”, o que é que há de errado com esse quadro? Elas doam todos os seus momentos para essa criança, deixam de estudar, de trabalhar, muitas vezes porque não tem ninguém para ficar com elas. Elas abdicam de todos os seus sonhos... Sonhos que um dia terão que voltar a ter. Winnicott já abordava sobre essa temática da estruturação da família em torno da criança doente e consequentemente o seu choque, pois, não apenas a mãe, mas os pais e os irmãos passam a depender do que essa criança pode ou não fazer para viverem suas vidas:

[...] o choque provocado por uma criança doente, ou deficiente, e que por uma razão ou outra não possa contribuir. Pode-se então observar como os pais e a família sofrem em consequência disso. Quando a criança não contribui, os pais têm de tomar para si uma tarefa nada natural – devem construir e manter um lar e uma atmosfera familiar apesar de não poderem contar com a ajuda daquela criança. No cumprimento dessa tarefa, há um limite além do qual não se pode esperar o bom êxito dos pais (WINNICOTT, 2005, p. 68).

É necessário que essas mães, que essa família especial, possa contar com uma rede de apoio que as ajude a construir esse lar, essa atmosfera familiar saudável, porque isso afetará bastante o desenvolvimento do seu filho especial:

Uma criança precisa sentir que é objeto de prazer e de orgulho para a sua mãe, assim como uma mãe necessita sentir uma expansão de sua própria personalidade na de seu filho: ambos precisam se sentir profundamente identificados um com o outro. Os cuidados maternos com uma criança não se prestam a um rodízio; trata-se de uma relação viva, que altera tanto a personalidade da mãe quanto a do filho. [...] a provisão de cuidados maternos não pode ser considerada em termos do número de horas por dia, e, sim, em termos do prazer que a mãe e a criança obtêm da companhia um do outro (BOWLBY, 2006, p. 69).

Além disso, é no seio dessa família que as outras crianças podem aprender a viver em uma sociedade sem preconceitos já que é a família que proporciona               “à criança sua primeira experiência de viver e trabalhar com outras pessoas em uma comunidade” (NOLTE, 2003, p. 87).  Com isso, tanto o filho especial como os filhos “normais” podem aprender a conviver em uma sociedade mais justa, que aceite as diferenças e, dessa forma a família não ficará tão sobrecarregada. Para isso, no entanto, é necessário que as mães inicialmente percebam que precisam dessa rede de apoio, muitas vezes o que vemos é que elas possuem medo de entregar seus filhos para outras pessoas cuidarem enquanto elas fazem alguma atividade. Vemos isso no nosso dia-a-dia, onde nos oferecemos para cuidar das crianças enquanto elas pintam ou escrevem sobre suas vidas, poucas sãos as que entregam a criança, preferem muitas vezes darem um jeitinho “aqui e acolá” para continuar com as crianças em seus colos.

Trabalhando em grupo...


Vínculos duradouros onde exista uma troca constante de afeto e ajuda, em que possam se comunicar, trocar ideias, essa é nossa ideia de grupo de apoio (ou suporte) (MELLO FILHO, 2007, p. 113) e nosso objetivo.
Inicialmente, o que chamávamos de grupo, não era na prática um grupo: as mães chegavam sentavam, as que sentavam próximas uma das outras conversavam, as que vinham juntas dentro do carro conversavam entre si, subgrupos e não um grupo era o que existia. Acontecia de terem mães novatas e elas nem se darem conta de haver uma novata na sala. Depois de dois anos, ainda vemos isso, nem todas sabem os nomes das mulheres que veem toda semana.
Primeiro, tivemos que trocar informações sobre suas vidas para que pudessem perceber o quanto elas possuem em suas vidas algo em comum, depois, tivemos que proporcionar momentos em que elas liberassem suas raivas e angústias. No grupo da segunda, ainda temos que proporcionar um estreitamento de vínculos. Para que a resultante possa ser “[...] um sentimento de coesão e de apoio que empresta ao grupo subsídios para o enfrentamento da realidade, agindo como fator moderador do estresse” (MELLO FILHO, 2007, p. 113) e além disso “[...] reforçar o self do indivíduo, elevando sua auto-estima e autoconfiança” (MELLO FILHO, 2007, p. 114).
O grupo também funciona como meio de catarse: em uma reunião em que as mães conversaram em duplas entre si para aprofundar os laços e se conhecerem mais, ocorreu que no fim, onde unimos todo o grupo, duas mães se reportaram a uma mãe que para elas era como se fosse um exemplo de dedicação e amor. A mãe exemplar chorou, pois para si era difícil falar sobre o seu filho, as outras duas também começaram a chorar. O grupo inteiro se emocionou e outros assuntos como dificuldades encontradas em seus lares surgiram e, entre si elas conseguiram encontrar ajudar e palavras de conforto e carinho que as ajudassem a levar as agruras do dia-a-dia.

Portanto, além de catarse, proporciona troca de informações, coisas que deram certo ou mesmo de atitudes e cuidado diante dos seus filhos: uma mãe, certa vez, deu o depoimento de que ela fazia massagem em sua criança, tocando cada parte do seu corpo com creme hidratante, que colocava seus pés descalços na areia e na cerâmica para que ele pudesse sentir a temperatura e a textura, que dava comida pastosa, mas de diferentes sabores para ele perceber os sabores. Atos simples, que poderia ser feito por qualquer uma delas e que seriam de grande valia para o tratamento de seus filhos e para o relacionamento que elas mantêm com eles.
Pouco a pouco elas vão se descobrindo, descobrindo que podem ser mais fortes em grupo, descobrindo que precisam dedicar-se a si mesmas.

Dificuldades e alegrias...

Como grupo não podemos nos colocar fora do grupo. Nós realizadores do projeto também temos sonhos e esperanças, além de medos.
Comecemos pelas dificuldades: como estudantes, os primeiros momentos de contato com o grupo são de ansiedade e medo do imprevisível: o que fazer quando as mães começarem a chorar? O que fazer quando o grupo não quiser participar? Com o tempo vamos aprendendo a questionar e dialogar com grupo, poder colocar as dificuldades encontradas na realização do trabalho pedir para que elas deem um feedback, afinal, é para elas todo esse trabalho, toda essa dedicação. Vamos aprendendo a lidar com a ansiedade nossa e delas, a ter outras ideias em mente para quando surgir o inesperado. Aprendemos a ser empáticas, a nos colocar no lugar dessas mães, compreender suas histórias e entender o porquê de cada medo e cada frase, sem esquecermos-nos do lugar em que estamos. Sem esquecer que às vezes, seremos como mães para elas, tendo que dar limites, mostrando a realidade, tendo que ser duras e dizer: “não, temos que repensar esse grupo e para isso precisamos de vocês, o que vocês querem?”; assim em vez de guiá-las por essa realidade especial, nos caminhamos com elas. As reuniões são uns encontros, como uma mãe já disse, isso aqui é um “SPA”.
                
Bem para ser SPA, precisamos de algumas detalhes e, aí entram em cena os sonhos: poder levar alguns cabeleireiros e maquiagem, para fazer uma tarde em que elas possam se reinventar e, possam ver o quanto elas podem ser bonitas, o quanto existe por trás daquela mascara de cansaço. O quanto ainda são jovens. Ou então, fazer uma viagem, para a praia, ou para uma piscina e poder proporcionar alguns momentos para elas e seus filhos, onde poderão estreitar os laços entre si e, verem que sim um passeio com uma criança especial pode ser possível. Trazer técnicos que lhes ensinem como massagear, sem machucar, como a Shantala para os bebês ou uma massagem fácil, para si próprias. Levar materiais diversos (como papeis coloridos, tintas, massa de modelar) para que elas possam através deles contar as dores com as quais não podem lidar verbalmente. E material para que possamos de formas mais lúdicas e interativas ensinar um pouco mais sobre a doença, já que às vezes os profissionais da área de saúde, preocupados com seus filhos, esquecem informações básicas, ou passam de forma muito técnica o que é cada doença, ou por receio e vergonha elas não perguntam e não sanam todas as suas dúvidas. Jogos, brincadeiras, amor, carinho e atenção, criatividade... Criatividade para transformar as dores, os medos e a ignorância.

A alegria chega quando os encontros são divertidos, quando elas falam e perguntam sobre si. A gratificação vem do encontro de indivíduos em um grupo. No último encontro, a atividade inicial proposta não pode ser realizada. Havíamos acabado de voltar das férias e fizemos uma viagem mental a praia para revitalizar as forças, risos e sorrisos, pelo inusitado e pelos pensamentos que ocorrem numa praia... Depois, o toque suave em uma massagem, interação e descanso... Compartilhamento... E alegria.

Considerações

 Dois anos... Parece menos... Parece pouco... Não é apenas as mães que precisam de apoio. Para que o trabalho possa ser feito e realizado de forma concreta é preciso buscar apoio de vários ordens: individual, financeira, institucional.
               
No entanto, mesmo com as dificuldades de lugar, horário, o entra e sai de gente, a falta de verba. É possível ter uma experiência eficiente, pois, existe dedicação e carinho. O profissional nesse espaço é imprescindível, constatamos esse fato o tempo todo, ao nos depararmos com essas mães. As reuniões ocorrem a cada 15 dias e em 15 dias muitas coisas podem ocorrer: uma criança pode adoecer e precisar ir pro Recife, voltar e ir de novo. E quando voltamos a encontrar a mãe, ela está em um misto de angústia, cansaço e felicidade: “meu filho ficará doente novamente? Estou cansada de tanto ir e vir. Que bom que meu filho melhorou”; e uma hora, nesses casos, mostra-se um tempo demasiado curto.

Como estudantes e futuros profissionais crescemos. É uma experiência que para a formação nos ajudou a manter a mente aberta e amadurecer mais rápido para a responsabilidade que é “escutar” uma pessoa.              Encontramos pedras e mais pedras no caminho, mas, para nós, as pedras se dissolvem quando escutamos “nunca mais tinham vindo, esqueceram-se de nós?” (informação verbal), “a gente aprende muito com vocês” (informação verbal). E no coração fica a certeza de que o trabalho é necessário, quando ao terminar um encontro em que as mães enfeitaram a sala para dar um colorido e vida em sua própria espera, escutamos: “O que seria da gente sem vocês aqui”?

Referências

BOWLBY, J.; Cuidados Maternos e saúde menta. 5° Ed., São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 239 (Psicologia e Pedagogia) 

MELLO FILHO, J. de; Grupo e corpo: psicoterapia de grupo com pacientes somáticos. 2° Ed., São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007, p. 404

NOLTE, D.; HARRIS, R; As crianças aprendem o que vivenciam. 28° Ed., São Paulo: Arx, 2005 p. 303 

WINNICOTT, D. W.; A família e o desenvolvimento individual. 3° Ed., São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 247 (Psicologia e Pedagogia) 

________; Conversando com os pais. 2° Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 152 (Psicologia e Pedagogia)



                                                                                               Rosario de Medeiros Dantas Câmara*
                                                                                                                  Jessyanne de Freitas Souza*
                                                                                                         Prof. Dr. Antonio Pereira filho**

 * Estudantes do 8º. Período do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências, Educação e Tecnologia de Garanhuns – Universidade de Pernambuco

** Professor Adjunto da Universidade de Pernambuco

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Momento Poético: Barra Vento

Barra Vento

A pedra olha para a pedra
se comunica, conversa,
conversa de comadres.
Pergunta: o que fazer para ficar mais bela?

- Fomos banhadas pelo mar - responde uma delas.
- Nosso marido é de todas elas.
- O que fazer para ficar mais bela?
- Talvez não façamos nada!

- Mas, nos olham.
- Isto já nos faz mais bela, 
a mais graciosa de todas elas,
o mar nos olha outra vez. Veja!

- Outra vez ele nos lava.
Cada vez mais bela.
- Nosso ruge, nossa vela,
o mar nos faz mais bela.

(Oliveira, I. C.; Marcas da Travessia. Recife: Bagaço, 2008, p. 59)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Psicoterapia de Grupo: Como? Quando? Por quê?

Para quem não conhece ou está entrando no mundo da psicoterapia pela primeira vez pode ser que o nome "Psicoterapia de Grupo" assuste. Como expor os seus sentimentos mais íntimos, aquilo que doí e até que não queremos ver, para várias pessoas que não lhe conhecem? Como confiar que elas não irão lhe julgar, nem sair contando o que ouviu na sessão por aí? São inibições e dúvidas que ocorrem, talvez, por não conhecer o que é a psicoterapia de grupo e para quê ela serve.

Se pensarmos bem, o ser humano está quase o tempo todo imerso em interações sociais, ou seja, está sempre dentro de um grupo. O primeiro grupo que podemos pensar é o familiar, nele temos o pequeno grupo da família nuclear, e um grupo maior formado pela família extensa, depois temos os grupos de amizade, escolares, de trabalho e por aí vai. Podemos concluir, portanto, que para entender o ser humano individualmente é necessário compreender a interação que ele possui com os grupos sociais nos quais convive.  A Psicoterapia de Grupo foi introduzida na década de 1940 e popularizou-se depois da Segunda Guerra Mundial ( Cartwright, s/d; Yalom, 2006) e embora tenha sido considerada um ramo da psiquiatria, seus fins terapêuticos são utilizados em diversos movimentos, como exemplo temos os Alcoólatras Anônimos  (A.A.), e recebeu uma influência muito forte dos estudos psicanalíticos e dos serviços sociais. Diversas modalidades da psicoterapia de grupo surgiram no decorrer do tempo, dentre elas o psicodrama e o sociodrama desenvolvidas por Moreno, os Grupos de apoio que não são grupos terapêuticos mas exercem uma função terapêutica, os grupos de orientação e etc. 

As psicoterapias de grupo possuem como foco as interações, proporcionando aos integrantes do grupo a identificação e o entendimento do que sai de errado em suas interações para que possam mudar o padrão de comportamento mal-adaptado. De uma certa forma, elas também proporcionam aos integrantes do grupo as seguintes experiências (Yalom, 2006):

  • Transmissão de esperança;
  • O descobrimento de que outras pessoas também passam pelo mesmo processo, ou seja, a universalidade do sofrimento;
  • O compartilhamento de informações;
  • O Altruísmo.
  • A revisão dos comportamentos aprendidos no grupo familiar primário e a modificação dos comportamentos mal-adaptados;
  • O desenvolvimento de técnicas de socialização mais afetivas;
  • O aprendizado de novos comportamentos pela imitação;
  • A troca de conhecimento;
  • Uma união do grupo que fortalece a ideia de que podem contar com outras pessoas encontrar ajudar e que podem ser aceitos apesar de seus defeitos;
  • A libertação dos sintomas, das dores e das ideias que fazem mal ao sujeito;
  • A constatação de fatores universais, exemplos: o reconhecimento que a vida às vezes é injusta; que não existe essencialmente uma saída da própria vida e para a morte; o reconhecimento que apesar de ter ajuda, ainda é necessário enfrentar sua própria vida sozinho; o enfrentamento de questões básicas da vida e da morte para que a vivência seja mais honesta e para que se prenda menos a trivialidades; e, o aprendizado de assumir completamente a responsabilidade pelos seus atos e pelo que acontece em sua vida.

Além disso, regras de conduta dentro e fora do grupo são acordada com os participantes, como a pontualidade e o horário das sessões, a confidenciabilidade, ou seja, o pacto para que o que aconteça e seja dito no grupo continue no grupo, dentre outras. Os grupos podem permitir a entrada de participantes depois de seu início ou não, podem ser breves ou longos, podem ter apenas integrantes do mesmo sexo ou ser misto, como podem ter participantes com o mesmo tipo de sofrimento ou não. A quantidade de participantes também vária de acordo com os objetivos propostos.

As interações sociais quase sempre possuem um efeito benéfico no ser humano, pois ele é gregário por natureza. Só a partir da ajuda mútua que os homens das cavernas puderam sobreviver ao ambiente hostil no qual viviam e, daí em diante as normas sociais foram surgindo e os grupos foram ficando maiores até chegar aos dias atuais.

Ademais com o tamanho da população existente e dos diversos tipos de adoecimento que anda acometendo o ser humano os atendimentos em grupo tornam-se uma ferramenta de extrema importância, pois as vezes faz com que as pessoas melhorem mais rápido que o atendimento individual e possibilitam uma rotatividade maior em um tempo de espera menor para os atendimentos. 

Nem sempre a psicoterapia de grupo deve ser indicada para alguém como início de tratamento, no entanto, em algum momento pode ser interessante; para outros iniciar com a psicoterapia de grupo é uma experiência que transforma a percepção de mundo facilitando as mudanças que sejam necessárias na vida.

Atualmente, muitos grupos de apoio tem surgido para lidar com diversos tipos de assuntos: obesidade, depressão, luto e etc. Grupos de orientação a pais também tem sido utilizados de forma excepcional em diversos serviços pois permitem a identificação do que é comum na criança e diminuem as culpas ao se darem conta de que outros pais também passam pela mesma coisa. 
Tradução Livre:
- Olá! Meu nome é Roberto...  E faz mais de um ano que
não consumo quase nada.



E, você? Já participou de alguma Psicoterapia de Grupo? Se não participou e algum dia for lhe apresentado a possibilidade, experimente! Mudar é sempre bom!





Referências Bibliográficas:
  • Cartwrigt, D.; Dinâmica de grupo: pesquisa e teoria, organizado por Dorwin e Alvin Zander, tradução de Dante Moreira Leite e Miriam L. Moreira Leite. São Paulo, E.P.U.;
  • Yalom, I. D.; Psicoterapia de grupo: teoria e prática, Irvin D. Yalom, Molyn Leszcz, tradução Ronaldo Cataldo Costa, Porto Alegre: Artmed, 2006;

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Refletindo sobre a beleza e a dor de ser mãe de uma criança especial

Comecei escrevendo este texto há uns bons seis anos. Ele ficou engavetado e algumas frases chaves foram utilizadas para construir um artigo mais acadêmico. No entanto, é uma temática que sempre percorreu a minha história estudantil e profissional. Agora com todos os alardes que ocorrem devido ao aumento de número de bebês com microcefalia é preciso que a sociedade pense um pouco sobre as dificuldades que irão recair sobre essas famílias e principalmente nessas mães. Já se perguntaram como é cuidar de uma pessoa que não fala? Que não se move? Que não demonstra em seu rosto o que está sentindo? Como uma mãe, que faz sonhos e espera um filho lindo e maravilhoso, consegue aguentar a pressão de conviver dia-a-dia com uma criança que não corresponde aos seus mais íntimos sonhos?
Se você perguntasse a essas mães como elas aguentam isso, elas responderiam apenas que são mães e é o seu dever cuidar do seu filho não importa como ele seja. Elas responderiam que eles são anjos e lhes ensinam muitas coisas, mudaram suas vidas, um presente mandado as suas famílias por Deus. Sei disso pois fiz um trabalho voluntário durante quase três anos com mães especiais e era assim que elas falavam.
Olhando assim de fora é um quadro lindo: as mães renunciam suas vidas. São mulheres que renunciaram tantas outras atividades conquistadas duramente nas últimas décadas e voltam ao lar, impedidas por uma doença a desenvolverem seus outros potenciais e vale salientar: uma doença que não é sua, mas de um de seus filhos, elas normalmente estão na mais perfeita saúde física. A sina destas mulheres é serem mães especiais! Sua dádiva: é aprender com essas crianças especiais! E as crianças vivem “felizes” em suas doenças, tendo alguém que cuide delas. As mães se dizem felizes e poucas são as que percebem estarem atreladas a uma vida de atribuições, muitas vezes ingratas.
Mas, se aprofundarmos um pouco mais, o que acontece quando ao abdicar de tudo por uma criança você abdica ao seu próprio eu? Uma pessoa poderá ajudar outra a crescer e aprender se não cuidar de si mesma?
O que vemos ao trabalhar com essas mães é que a dor, o medo, a falta de informação transformam esse amor em uma faca de dois gumes: o amor que cuida é aquele que sufoca. Elas não falam sobre sua frustração, sobre seus medos e, se colocam em um altar: Mulheres Guerreiras e Vencedoras. Não lhes tiro a razão de pensar assim. Mas ao não falarem, ao não exporem seus erros, o medo e a insegurança pouco a pouco preenchem a relação com seus filhos. Não existe alguém que lhes diga que a insegurança faz parte do caminho e que é preciso procurar ajudar, não só para seus filhos, mas para elas. Que elas não poderão trilhar esse caminho tão árduo sozinhas, como se fossem mães de crianças "normais".
A sociedade muitas vezes rejeita e a própria família extensa repele a criança especial e sua família nuclear. As mães notam o olhar de que algo está errado e que isso é inaceitável. O preço do preconceito elas e seus filhos irão levar para o resto da vida.
Ao ouvirem, como diria Winnicott, que errar é humano e elas podem odiar e amar seus filhos especiais, que por mais que pareça elas não estão sozinhas e as barreiras do preconceito podem ser vencidas, elas choram e choram... Um choro que traz o perdão para seus atos. Choro que alivia a solidão.

A sociedade precisa acordar para a delicadeza desta situação, para as luzes e as sombras que existem nestes relacionamentos e estenderem as mãos para aliviar o fardo e compartilhar do aprendizado que estas famílias recebem. A compaixão precisa ser encontrada, a ideia de amor incondicional toma forma, aprende-se com a imperfeição. Não é pretensão ensinar melhores formas de lidar com estas crianças, algumas informações são válidas. Porém o mais importante é dar voz. Voz a estas mulheres e suas famílias para que elas possam falar não só de suas alegrias, mas também de suas dores.  Para que todos possam aprender devagarinho e regada a dores, e alegrias, como se comunicar com esses pequenos seres humanos ou com qualquer outro ser que não fale a mesma língua que a nossa.

  • WINNICOTT, D. W.; A família e o desenvolvimento individual. 3° Ed., São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 247 (Psicologia e Pedagogia) 
  • ________; Conversando com os pais. 2° Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 152 (Psicologia e Pedagogia) 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Momento Poético: Romeu e Julieta - Ato III - Cena V (fragmento)

Romeu e Julieta (Ato III - Cena V [fragmento])

(O último beijo de Romeu e Julieta - Francesco Hayes)

Julieta:
Já vais partir? O dia ainda está longe.
Não foi a cotovia, mas apenas
o rouxinol que o fundo amedrontado
do ouvido te feriu. Todas as noites
ele canta nos galhos da romeira.
Romeu: É a cotovia, o arauto da manhã;
não foi o rouxinol. Olha, querida,
para aquelas estrias invejosas
que cortam pelas nuvens do nascente.
As candeias da noite se apagaram;
sobre a ponta dos pés o alegre do dia
se põe, no pico das montanhas úmidas. 
Ou parto, e vivo, ou morrerei, ficando.
Julieta: Não é do dia aquela claridade,
podes acreditar-me. É algum meteoro
que o sol exala, para que te sirva
de tocheiro esta noite e te ilumine
no caminho de Mântua. Assim, espera,
não precisas partir assim tão cedo.
Romeu:
Que importa que me prendam, que me matem?
Serei feliz assim, se assim o quiseres.
Direi que aquele ponto acinzentado
não é o olho do dia, mas o pálido
reflexo do diadema da alta Cíntia,
e também que não foi a cotovia,
cujas notas a abóbada celeste
tão longe ferem sobre nossas frontes.
Ficar é pra mim grande ventura;
partir é dor. Vem logo, morte dura!
Julieta quer assim. Não, não é dia.
Julieta: É dia; foge! A noite se abrevia.
Depressa! É a cotovia, sim, que canta
desafinada e rouca, discordantes
modulações forçando e insuportáveis.
Dizem que ela é só fonte de harmonia;
não é assim, pois ora nos divide.
Há quem diga que o sapo e a cotovia
 mudam os olhos. Oh! quisera agora 
que ambos a voz também trocado houvessem,
pois ela nos separa e, assim tão cedo,
como grito de caça mete medo.
Oh vai! A luz aumenta a cada instante;
Romeu: A luz? A escuridão apavorante.


(Shakespeare, W.; Tragédias: Teatro Completo; tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 57).

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Como falar sobre a morte com crianças?

Utilizemos uma metáfora: uma borboleta para nascer precisa morrer como lagarta. Mudanças, transformações é isso que toda morte acarreta na vida das pessoas. E, por isso, temos uma certa precaução ao falar de morte com crianças. Elas são tão pequenas, tão inocentes, como contar para ela que seu ente querido não irá voltar? Como contar que toda a sua vida irá mudar?

Algo que sempre deixamos escapar é a realidade inevitável da morte. Única certeza da vida. E a constante mudança que é a característica única do viver. Quem vive está o tempo todo mudando, porquê o tempo todo aprende e vivencia novas situações e até mesmo aquilo que pareça igual, rotineiro, torna-se diferente, pois, envelhecemos, conhecemos novas pessoas, vemos filmes e lemos livros que abrem nossa mente para várias realidades. 

Falar de morte com crianças é falar da vida. É ensiná-las sobre a necessidade de aproveitar todos os momentos da melhor forma possível, pois nunca saberemos quando é o último adeus. Quando falo em aproveitar os momentos, não é apenas diversão, brincadeiras e festas. É saber ouvir o outro, dizer que ama, aproveitar o tempo que se tem com aqueles que moram dentro do coração. É não perder tempo com brigas bobas e compreender que nem sempre vamos concordar com tudo que os outros dizem ou esperam de nós, mas podemos aceitar os sentimentos e as diferenças e descobrir a beleza da vida nesses detalhes. Para que depois os arrependimentos por não ter dito ou vivido aquilo com determinada pessoa não seja uma bagagem pesada demais para carregar.

Enfim, o jeito que a criança tem de entender a morte é diferente do jeito que o adulto entende. Existe uma variação que percorre a faixa etária e o quanto a criança consegue compreender ideias abstratas. Pois bem, crianças menores normalmente tendem a acreditar que aquele que foi morar com o papai do céu, pode voltar para visitá-la de vez em quando, ocorrendo vários causos sobre a criança ver e ouvir o morto. Ou seja, para elas é possível que o morto, possa viver novamente. Lidamos com isso brincando e nem percebemos: quantas vezes fingimos que morremos para logo depois voltarmos a correr e dar risadas? Pois é, a morte faz parte do nosso dia a dia. 

Principalmente na infância, as mudanças são tantas e as perdas tão frequentes que isso é dado de forma natural. Deixamos de ser bebês, passamos a ser criancinhas, passamos a ser mocinhas e mocinhos, para sermos pré-adolescentes, adolescentes, jovens adultos, adultos e idosos. Faz parte do ciclo. Mas onde ocorre as maiores transformações? Onde as perdas são mais frequentes? Na pequena faixa etária entre 0 a 18 anos. Elas estão o tempo todo lidando com perdas. A perda do brinquedo preferido. Dos professores. Do que se pode ou não fazer. As crianças quando vão se tornando mais velha, vão percebendo que algumas coisas não voltam e por volta dos 11, 12 anos de idade, elas já possuem a ideia da morte, semelhante a do adulto. É possível entender abstratamente isso que os adultos chamam de "ir morar com o papai do céu" e de porquê os mortos não voltam quando estamos com saudade. 

Por isso, uma criança também necessita passar pelos rituais sociais de despedida do morto: velório, enterro e etc. Por isso é preciso deixar uma porta aberta para que a criança saiba que pode conversar com as pessoas ao seu redor sobre aquele que se foi. Tirar dúvidas, falar da saudade, das lembranças. As vezes, é mais difícil para o adulto trazer essas lembranças à tona e por isso fica mais fácil dizer que a criança é muito nova para entender. Claro, que ela não vai entender como os adultos entendem! Mas ela sente a falta, assim como eles. Livros, desenhos animados, filmes e músicas ajudam a trazer de uma forma mais lúdica o assunto e talvez de uma forma mais leve também.


É importante falar sobre a morte. É importante falar sobre os mortos. Para que eles não assombrem a jornada dos que ainda estão vivos. Se sentir vontade de chorar quando estiver conversando com a criança, chore! Por que não? É uma questão de ensinar a lidar com os sentimentos que todos possuem.   É, simplesmente, aprender a dançar ao som da vida.


Publicado originalmente no site Agenda Saúde em 03 de Fevereiro de 2016:
http://www.agendasaude.net/2016/02/como-falar-sobre-morte-com-criancas.html 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Momento Poético - Marcha de Quarta-Feira de Cinzas




Marcha de Quarta-Feira de Cinzas 

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz


(Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, retirado do site: Poesias, poemas e versos. Clique aqui para acessar.)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Momento Poético: Tempestade da Suadade

Primeiro Momento Poético do ano de 2016. O mundo precisa de poesia. Melodia. Precisa de um alívio das dores e dos aperreios do dia-a-dia.  Traduzir em palavras o que vai no coração é um dom que alguns possuem belissimamente, outros precisam ainda aprender o ofício, mas que está ao alcance de cada um que queira se expressar. Se doer, chore, escreva. Se sorrir, sorria, escreva! Conte! Pois, ao colocar pra fora podemos observar o sentimento por um outro ângulo. Ele percorre caminhos que antes você nunca imaginaria e poderá lhe trazer novas informações. Faça que o conhecimento vindo da experiência transite. Que ele transite para se transformar.

Então, bora lá:




Tempestade da Saudade

E se lembrar de alguém, você precisa ir à busca do seu coração
Mesmo que caia uma lágrima
Ainda existe um sorriso.

Saudade é um balde
A esperança um rio
A força do rio está entre a terra e a lágrima
Por onde corre o sorriso.

Quando bater o vento da saudade
Siga o rio
Porque o rio é a fonte
A força do amor.

A chuva está caindo do céu
Porque os milagres precisam florescer na terra.
Assim como existem tempestades
Que temos que esperar para encontrarmos o Sol.

Ainda existem lágrimas
Que passam pela alma
Para encontrar o Sol
De um sorriso
Como esperança 
De um novo arco-íris

(Carvalho, Rhenan. O Coração de Anakreb: uma viagem para a alma. Campinas, SP: Ed. do Autor, 2013. p.57)