(Barrie, 1999, p.7)

Adoro essa citação do livro do James Barrie, Peter Pan e Wendy, ela é singela e sábia: a Sra. Darling, mãe da Wendy, sabia que não poderia manter a filha para sempre com dois anos, onde ela ainda seria aquela fofurinha de bebê que faz várias travessuras e todo mundo acha engraçado e bonitinho porquê é um bebêzinho que está explorando o mundo e ainda possui a tal ingenuidade infantil.
Os pais precisam saber que as crianças não vão ser sempre essas coisas fofas que eles tanto amam e precisam aceitar que de vez em quando vão sentir muita raiva e talvez até mesmo desejar que elas não tivessem existido, e o mais importante, que os seus filhos também irão ama-los e odiá-los. Ah! E claro, eles irão dar trabalho! Muito trabalho! Crianças não são bonecos, que a gente coloca em um canto e eles ficam. Eles irão gritar, conversar, bagunçar, pular, fazer coisas erradas, fazer coisas certas, lhe irritar, lhe dar carinho e mais um monte de coisas que os próprios pais também fazem em suas relações.
Pois bem, escuto os pais que chegam ao consultório queixando-se que seus filhos estão agressivos, chatos, abusados, respondões, e que eles não aguentam mais, estão cansados, perdidos e já tentaram de tudo, não fazem mais ideia do que fazer. Pergunto a idade das crianças e eles me respondem, sérios: três, quatro, cinco anos... Oi??? Fico me perguntando como é que uma criança de três anos de idade consegue bater em um adulto que tem praticamente o terço do seu tamanho? Mas, acontece...
Começamos a conversar e eles falam o quanto é diferente a educação e o respeito que eles possuíam com seus pais, com a que seus filhos possuem por eles. Eles não se comparam aos seus pais, mas lembram-se de como eram como filhos. Levando em conta que algumas lembranças são uma mescla do que vivenciamos e do que escutamos as outras pessoas falando sobre nós, vai saber o que os pais realmente achavam ou como eles se sentiam na época. O que mudou? Será que as tapas e castigos físicos faziam tanta diferença assim? Será que eram os gritos? Ou o espaço para brincadeiras?
Ok! Ok! Admito! A vida mudou muito... mas também não é pra tanto.
Se vocês me perguntarem o que eu acho, eu vou lhes dizer, de uma pessoa que não tem filhos, observa de longe e, sem querer me gabar, mas que as crianças adoram, o que falta são elementos muito simples: Atenção, Paciência, Respeito e Compreensão!
Não só dos pais para com seus filhos, ou dos seus filhos para com seus pais, mas inclusive de si para consigo mesmo.
Vejam bem, é preciso ter compreensão para com todos os envolvidos. Os pais estão exaustos dos seus próprios trabalhos e possuem os seus próprios problemas emocionais, muitas vezes devido a relacionamentos no trabalho, com os parceiros e por aí a fora. Os filhos estão cansados de ficar sozinhos, de passarem o dia todo assistindo os mesmos vídeos, de fazer atividades de escola, ou simplesmente de sempre ouvirem não: "Não podem fazer isso, não podem fazer aquilo! Não posso prestar atenção em você agora, espere um pouco, estou trabalhando"!
Tic... Tac.. Tic... Tac...
O tempo está passando e assim como o jacaré que fica atrás do Capitão Gancho para conseguir um pouco mais de naco da carne do capitão, assim o tempo está atrás desses pais e desses filhos...
Tic... Tac... Tic... Tac...
Compreensão de que o tempo passa, as crianças crescem e o tempo não volta atrás. Compreensão para entender que cada um tem sua forma de viver e suas prioridades. Então, chegamos ao respeito, pois as crianças também possuem suas prioridades, suas necessidades, que vão tornando-se diferentes a medida que vão crescendo.
Paciência para aprender a esperar e fazer com que os tempos convirjam para um mesmo ponto: o da atenção para com o cuidado e carinho que todos merecem. Essa atenção deve vir dos próprios pais, pois a criança precisa aprender a esperar e se os pais não lhe ensinarem isso, a vida vai ensinar de forma mais difícil quando estiverem mais velho.
Os pais precisam de tempo para si, como sujeitos que possuem sua própria individualidade e do seu tempo de solidão, do tempo de casal - para que o par parental não sucumba as adversidades do dia a dia - e, precisam entender que necessitam de tempo para encontrarem sua forma de serem pais e por isso, precisam prestar atenção no que sentem para entenderem a si e aos seus filhos. Ou seja, muita atenção aos seus próprios sentimentos e necessidades.
Até porque é tanta informação de como fazer e de como agir que noto que eles tornaram-se meio maluquinhos, sabe? "Faço o que minha mãe disse? Ela criou não sei quantos... Ou será, melhor fazer como o marido disse... Ai, e a reportagem que eu vi na televisão... Ai, meu deus, a psicóloga disse para que eu fizesse assim"...
Só que no dia a dia, na hora "H", é você e apenas você, sua forma de ser, que irá dizer como você agirá naquele momento. É a sua essência, aquilo que você é e como você reage aos testes que a vida impõe que irá oferecer uma resposta e um exemplo ao seu filho.
Então, é o que peço aos pais de crianças tão pequenas que ainda possuem sua moral e ética em formação para pensarem: qual o exemplo que você está dando ao seu filho? Quer que seu filho seja amoroso, gentil e paciente? Observe-se! Você também é assim? Você também é amoroso, gentil e paciente para com eles? Pois, um fruto nunca caí longe da árvore. E, crianças pequenas... Bem... Elas ainda são pequenas... Ah! E são crianças, não bonecos, que não se mexem, não falam, não pensam e não possui vontade.


