domingo, 13 de maio de 2018

Carta para as mamães (e para os papais também)



Donald Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês que estudou sobre a relação mãe/bebê na segunda metade do século passado. Ele acreditava que uma mãe só existe para um bebê e que um bebê só existe para uma mãe, com isso ele queria dizer que a relação existente entre a mãe e o seu bebê é única, especial e que ocorre há dois. Portanto, ele trabalhava bastante em aliviar a culpa que por vezes os pais sentem por determinados comportamentos que possuem com seus filhos. Ele diz em seu livro “Conversando com os pais” (1999, p.3): “Do que as pessoas realmente gostam é que lhes seja proporcionada a compreensão dos problemas que estão enfrentando [...] ninguém poderia ter dito a esses pais o que fazer naquelas circunstâncias, pela simples razão de que a circunstâncias não podiam ter sido descritas de antemão”.
A sociedade cobra bastante dos pais, principalmente das mães, para estarem presentes e serem carinhosos e amorosos quase 24hs por dia e os 366 dias por ano. Se a criança faz uma trela, ou chora, ou dá um escândalo no supermercado, logo surgem várias pessoas torcendo o queixo ou apontando o dedo dizendo que faltou educação. Na verdade, acredito que hoje em dia as pessoas esquecem que crianças possuem diversas etapas em seu desenvolvimento e que algumas tem mais dificuldades do que outras para aprenderem alguns detalhes, como “sim” e “não” ou “espere”, e querem que elas entendam logo esses conceitos e ajam como mini adultos que entendem o que a sociedade está pedindo. Os próprios pais esquecem disso e antecipam alguns comportamentos ou perdem facilmente a cabeça por esquecerem destes detalhes: são crianças e estão aprendendo, estão se adaptando a esse mundo tão estranho; e os pais também estão se adaptando a este novo mundo que se chama “educar uma criança”.
Portanto, a história é outra. É uma história que se constrói a dois, com dor, alegria, aperreios e vários momentos de “não sei o que fazer”, tanto para os pais como para seus filhos. Além do mais, hoje em dia é tanta gente dando pitaco, que os pais também precisam ouvir para pararem de ouvir o que todas as outras pessoas estão dizendo e possam encontrar em si mesmo e na relação que constrói com seu filho o que fazer.
Talvez, se conseguirmos tirar um pouco do peso que seria criar um filho e pensar no quanto pode ser prazeroso construir uma “relação” e descobrir o seu filho como um pequeno sujeito de desejos e se descobrir como mãe/pai, a relação possa encontrar uma leveza e ser um pouquinho mais fácil essa árdua tarefa que é criar um pequeno ser humaninho.
Já pensou em como pode ser divertido está preocupado apenas em brincar e fazer cócegas naqueles poucos momentos entre fazer a janta e lavar os pratos? Ou, tirar um dia de domingo para brincar na chuva ou fazer bolos de areia? Na brincadeira, a criança constrói o seu mundo e experimenta os diversos papeis. Aprende a ceder e a respeitar, o que é sim e não, qual hora é hora de quê. Já pensou em como é poder dizer que também ficou com raiva do filho e muito chateado com ele sem achar que com isso causará danos irreparáveis na personalidade da criança? Pois é, as coisas podem ser mais simples.
Por isso, a reflexão de hoje é: o que eu aprendo sobre ser mãe e pai na relação que construo com meu filho?


Publicado originalmente no Jornal Cidade ( Garanhuns - Ed. de Maio de 2018)

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