O dia 02 de abril é conhecido pelo dia da conscientização do autismo e
pela aproximação com esta data, venho aqui para propor pensarmos sobre o
autismo por um outro ângulo. Atualmente, acredita-se que 1 a cada 68 crianças
irá apresentar a sintomatologia do autismo. E, cada vez mais se fala ou é
possível encontrar informações sobre os principais sintomas.
No entanto, já se perguntaram por que será que este número de crianças
autistas aumenta cada vez mais? Há cerca de cinquenta anos atrás essa sintomatologia
era encontrada em poucas crianças, era tido como uma síndrome rara. Hoje em dia
é cada vez mais comum. Decerto que muita coisa mudou nas últimas décadas, na
verdade, se fizermos um levantamento histórico rápido iremos perceber que
muitas coisas sobre a infância mudaram em pouco tempo nos últimos séculos.
Vejam bem, há dois séculos atrás a criança era tida como uma miniatura do
adulto, ainda não existia todo esse amor e cuidado que temos na atualidade. As
escolas, tal como as conhecemos, também são criações recentes. Quem nos conta
isso é o historiador Philippe Àries em seu livro “história social da criança e
da família”. A família nuclear é uma invenção do final do século 18, quando a
burguesia começou a ascender. No decorrer do século XX vimos essa família
nuclear se tornar diversas famílias. Duas mães, dois pais, pais serapados,
filhos de segundos, terceiros e quartos casamentos e por aí vai. O cuidado das
crianças passou pelas mães, para os avós, para as babás e atualmente para as
televisões e telas dos celulares e tabletes.
Então, pensem bem, qual a ideia que você tem sobre a infância e o que é
ser criança ou cuidar de uma criança hoje? O que será que este número alarmante
de crianças com autismo vem dizer da sociedade que estamos construindo? Será
que é tudo orgânico e biológico e não temos como cuidar disso além de esperar
que a ciência nos diga como? Ou será que o nosso modo de viver e de pensar em
nós e nos outros, fala também de como estamos educando e olhando para nossas
crianças?
Em um mundo em que a individualidade está cada vez mais presente, onde o
importante é o que “eu quero” e não o que somos em conjunto, nos faz pensar se
estas crianças não denunciam exatamente nossa falta... Nossa falta no cuidado e
no olhar para com o outro, para com o comunitário, para o que é compartilhado.
Será que elas não são o espelho da vida adulta? Onde nos isolamos cada vez mais
nos celulares e redes sociais? Será o autismo uma doença da infância? Ou será
ele um sintoma social que fala de como estamos nos construindo?
Publicado originalmente no Jornal Cidade de março de 2018