segunda-feira, 2 de abril de 2018

Autismo


O dia 02 de abril é conhecido pelo dia da conscientização do autismo e pela aproximação com esta data, venho aqui para propor pensarmos sobre o autismo por um outro ângulo. Atualmente, acredita-se que 1 a cada 68 crianças irá apresentar a sintomatologia do autismo. E, cada vez mais se fala ou é possível encontrar informações sobre os principais sintomas.
No entanto, já se perguntaram por que será que este número de crianças autistas aumenta cada vez mais? Há cerca de cinquenta anos atrás essa sintomatologia era encontrada em poucas crianças, era tido como uma síndrome rara. Hoje em dia é cada vez mais comum. Decerto que muita coisa mudou nas últimas décadas, na verdade, se fizermos um levantamento histórico rápido iremos perceber que muitas coisas sobre a infância mudaram em pouco tempo nos últimos séculos.
Vejam bem, há dois séculos atrás a criança era tida como uma miniatura do adulto, ainda não existia todo esse amor e cuidado que temos na atualidade. As escolas, tal como as conhecemos, também são criações recentes. Quem nos conta isso é o historiador Philippe Àries em seu livro “história social da criança e da família”. A família nuclear é uma invenção do final do século 18, quando a burguesia começou a ascender. No decorrer do século XX vimos essa família nuclear se tornar diversas famílias. Duas mães, dois pais, pais serapados, filhos de segundos, terceiros e quartos casamentos e por aí vai. O cuidado das crianças passou pelas mães, para os avós, para as babás e atualmente para as televisões e telas dos celulares e tabletes.
Então, pensem bem, qual a ideia que você tem sobre a infância e o que é ser criança ou cuidar de uma criança hoje? O que será que este número alarmante de crianças com autismo vem dizer da sociedade que estamos construindo? Será que é tudo orgânico e biológico e não temos como cuidar disso além de esperar que a ciência nos diga como? Ou será que o nosso modo de viver e de pensar em nós e nos outros, fala também de como estamos educando e olhando para nossas crianças?
Em um mundo em que a individualidade está cada vez mais presente, onde o importante é o que “eu quero” e não o que somos em conjunto, nos faz pensar se estas crianças não denunciam exatamente nossa falta... Nossa falta no cuidado e no olhar para com o outro, para com o comunitário, para o que é compartilhado. Será que elas não são o espelho da vida adulta? Onde nos isolamos cada vez mais nos celulares e redes sociais? Será o autismo uma doença da infância? Ou será ele um sintoma social que fala de como estamos nos construindo?


Publicado originalmente no Jornal Cidade de março de 2018