quarta-feira, 24 de junho de 2015

Momento Poético

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.


A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Momento Poético - Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
O Aconchego da Morte - Rocco Caputo
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa, 1913

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Momento Poético - Dobre


Peguei no meu coração

E pu-lo na minha mão

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

Fernando Pessoa, 1913

sábado, 6 de junho de 2015

Realidade e Reflexos na Televisão!

Na televisão brasileira de hoje em dia o quê será que realmente é saudável para a nossa mente? Decerto que encontramos muitas bobagens e que as pessoas que trabalham em produzir entretenimento nem sempre se preocupam em melhorar a qualidade da televisão, mas será que isso quer dizer que nada presta nos nossos programas televisivos? Quanto mais o povo estiver alienado melhor, contudo será que todos estão alienados?

Nem tudo são trevas como parece. Dependendo da educação familiar, da vida que a pessoa teve e tem, ela consegue não se deixar levar pelos programas sensacionalistas, e procura retirar o melhor de tudo que assiste.

As pessoas reclamam que não existe o que assistir na televisão, que os desenhos estão violentos e influenciando nossas crianças, que os filmes apenas mostram o lado corrompido da nossa vida cotidiana, mas falar isso é generalizar o que nos é tão familiar. O que vemos é o reflexo da dualidade do bem e do mal que existe no universo. Todos possuem os dois e precisamos sempre tê-los em equilíbrio.

Ou seja, taxar um desenho de violento, não quer dizer necessariamente que ele vá influenciar as crianças, não é dizer que elas se transformarão em pessoas violentas. Sofremos influência do ambiente em que vivemos, isso é certo, porém não podemos exagerar. Nós temos o direito de escolher o que nos faz bem e mal, só nós sabemos o que nos faz bem e isso depende das nossas experiências de vida. Talvez tudo que é produzido para nós assistirmos não passe de um reflexo da nossa humanidade, do que nós temos vivido. Além do mais, o controle está nas nossas mãos, então é mudar de canal quando o programa não for do agrado, ou tentar descobrir o que aprender com aquilo que está passando na telinha, somos adultos, podemos fazer isso e as crianças... bem... elas só precisam da orientação de um adulto, que a ajude a entender e filtrar o que ela está assistindo.

Nisso tudo, eu só vejo um problema: a história nos conta que tudo acontece desse modo desde o começo dos tempos, a violência, as guerras, o sexo e etc. E como hoje em dia, nós temos uma maior circulação de informações, por causa da globalização, e uma liberdade de expressão muito maior, deve ser por isso que nos chocamos mais com o que vemos. 

Então, só nos resta apenas aprender com o passado e mudar o nosso presente, salvando o nosso futuro, refletindo melhor com as construções que fazemos com o que adentra nossas vidas pelos nossos sentidos da audição e da visão e dessa forma contribuindo para as mudanças de atos em nossa realidade concreta para que ela possa acessar a realidade virtual existente nos meios artísticos.

Ou seja, fica a dica ;) A vida imita a arte ou a arte imita a vida?

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Momento Poético - Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Fernando Pessoa